Soltando
sedimentos
Em
cada curva de meu curso deixo um pouco de meus sedimentos.
Carrego
cansado um fardo, transporto rochas por toda a vida e nem ao menos respeitado
sou.
Humanos
não se cansam de me explorar, degradar e por vezes me machucar, mesmo assim,
continuo meu curso e comigo levo todos os meus sedimentos.
Escavar
e transformar a paisagem são minha função, sou o que os geógrafos chamam de
agente exógeno, e apesar do nome importante, sou apenas um rio, um mero rio.
Conheço
colegas que sofrem o mesmo ou tão mais que eu! Eles são retificados e por vezes
perdem até seus cabelos, suas matas ciliares.
Assim
como humanos possuem sentimentos também possuo minhas angústias, sou surrado
diariamente por irresponsáveis que não menos sabem meu nome, e que depositam em
mim todo seu lixo.
Mesmo
com tantos problemas, deixo em meus meandros sedimentos, assim como humanos por
vezes tristes deixam suas lágrimas saudosistas ao léu.
Meus
sedimentos são fragmentos rochosos inanimados e compostos por diversos
minerais, porém não se iluda, por a cada deposição deixo um pouco de minhas marcas
e lágrimas.
Ecoa em mim o silêncio dessa solidão
E em cada dia da sua vida você vai chorar