Link da postagem original: https://www.nationalgeographicbrasil.com/2019/06/o-que-aconteceu-desastre-chernobyl-uniao-sovietica-ucrania-energia-nuclear
Em 25 e 26 de abril de 1986, o reator de uma usina nuclear explodiu e pegou fogo na região que atualmente é o norte da Ucrânia desencadeando o pior acidente nuclear da história. Envolto em mistério, o desastre foi um divisor de águas tanto na Guerra Fria quanto na história da energia nuclear. Mais de 30 anos depois, cientistas estimam que a área ao redor da antiga usina continuará inabitável por até 20 mil anos.
Em 25 e 26 de abril de 1986, o reator de uma usina nuclear explodiu e pegou fogo na região que atualmente é o norte da Ucrânia desencadeando o pior acidente nuclear da história. Envolto em mistério, o desastre foi um divisor de águas tanto na Guerra Fria quanto na história da energia nuclear. Mais de 30 anos depois, cientistas estimam que a área ao redor da antiga usina continuará inabitável por até 20 mil anos.
O
desastre ocorreu próximo à cidade de Chernobyl, na antiga União
Soviética, que investiu
intensamente em
energia nuclear após a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1977, os
cientistas soviéticos instalaram quatro reatores
nucleares RBMK (reatores
canalizados de alta potência) na usina de energia, localizada logo
ao sul da atual fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia.
Em
25 de abril de 1986, uma manutenção de rotina estava agendada para
acontecer no quarto reator da Central Nuclear de V.I. Lenin. Os
engenheiros planejavam aproveitar a ocasião para testar se o reator
ainda poderia ser resfriado casose a usina ficasse sem energia.
Durante o teste, entretanto, os operadores infringiram
protocolos de segurança e o reator ficou
sobrecarregado. Apesar das tentativas para desligar totalmente o
reator, outra sobrecarga provocou uma reação em cadeia de explosões
em seu interior. Por fim, o núcleo do reator ficou exposto, lançando
material radiativo para a atmosfera.
Após
esforços infrutíferos dos bombeiros para apagar as inúmeras chamas
na usina, helicópteros despejaram areia e outros materiais em uma
tentativa de abafar o fogo e conter a contaminação. Apesar da morte
de duas pessoas nas explosões, da internação hospitalar de
operários e bombeiros e do perigo da deposição de partículas
radiativas e do incêndio, ninguém nas imediações (inclusive na
cidade vizinha de Pripyat,
construída na década de 1970 para servir de moradia para os
operários da usina) foi evacuado nas primeiras 36 horas após o
início do desastre.
A
divulgação de um acidente nuclear era considerada um
risco político expressivo, mas, a essa altura, era tarde demais: a
fusão do núcleo do reator já tinha espalhado radiação até a
Suécia, onde oficiais de outra usina nuclear começaram a questionar
o que estava acontecendo na União Soviética. Depois de inicialmente
negar ter havido qualquer acidente, os soviéticos finalmente fizeram
um breve anúncio em 28 de abril.
Logo
o mundo percebeu que estava diante de um evento histórico. Até 30%
das 190 toneladas métricas de urânio de Chernobyl foram emitidas na
atmosfera e a União Soviética acabou evacuando 335
mil pessoas, definindo uma a “zona de exclusão” com um raio
aproximado de 30 km do reator.
Ao
menos 28 pessoas morreram de imediato em decorrência do acidente e
mais de 100 ficaram feridas. O Comitê Científico das Nações
Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica informou que mais de 6
mil crianças e adolescentes desenvolveram
câncer de
tireoide após a exposição à radiação do acidente, embora
alguns especialistas tenham
refutado essa alegação.
Pesquisadores
internacionais previram que,
no fim, aproximadamente 4 mil pessoas expostas a elevados níveis de
radiação poderiam desenvolver câncer como resultado da radiação,
ao passo que aproximadamente 5 mil pessoas expostas a baixos níveis
de radiação poderiam ter destino semelhante. Ainda assim, as
consequências totais do acidente, incluindo seus impactos sobre a
saúde mental e até sobre gerações futuras, ainda são muito
discutidas e estão sendo estudadas.
O
que resta do reator agora está encerrado em uma enorme estrutura de
contenção de aço implantada no fim de 2016. As tentativas de
contenção e monitoramento persistem e espera-se que as operações
de descontaminação perdurem até pelo menos 2065.
Impactos a longo prazo
O
impacto do desastre na floresta e fauna silvestre adjacentes também
permanece sendo um campo de intensas pesquisas. Imediatamente após o
acidente, uma área aproximada de dez quilômetros quadrados ficou
conhecida como a “Floresta Vermelha” porque muitas árvores
ficaram marrom-avermelhadas e morreram após absorver os altos níveis
de radiação.
Hoje,
a zona de exclusão é assustadoramente silenciosa, embora cheia de
vida. Embora muitas árvores tenham crescido de volta, os cientistas
encontraram evidência de elevados níveis de cataratas e albinismo e
baixas taxas de bactérias benéficas entre as espécies de animais
silvestres na região nos
últimos anos.
Ainda assim, devido à exclusão da atividade do homem ao redor da
usina de energia fechada, aumentaram as
populações de alguns animais silvestres, como linces e alces. Em
2015, os cientistas
estimaram que
havia sete vezes mais lobos na zona de exclusão que em reservas
comparáveis vizinhas, graças à ausência do homem.
O
desastre de Chernobyl teve outra repercussão: seu preço econômico
e político apressou
o fim da
União Soviética e estimulou o
movimento global contra o uso da energia nuclear. Estima-se que o
desastre tenha custado cerca de US$
235 bilhões em danos.
A atual Bielorrússia, que teve 23%
do território contaminado
pelo acidente, perdeu cerca de um quinto de sua terra cultivável. No
auge das operações de resposta ao desastre, em 1991, a Bielorrússia
gastou 22%
de seu orçamento total com
Chernobyl.
Hoje,
Chernobyl atrai
turistas intrigados com sua história e seus
riscos. Mas, embora Chernobyl seja o possível símbolo do fim da
energia nuclear, a Rússia nunca abandonou seu legado – ou sua
tecnologia. Em 2019, ainda existem 11
reatores RBMK em operação na Rússia.