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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O desastre de Chernobyl

Link da postagem original: https://www.nationalgeographicbrasil.com/2019/06/o-que-aconteceu-desastre-chernobyl-uniao-sovietica-ucrania-energia-nuclear

Em 25 e 26 de abril de 1986, o reator de uma usina nuclear explodiu e pegou fogo na região que atualmente é o norte da Ucrânia desencadeando o pior acidente nuclear da história. Envolto em mistério, o desastre foi um divisor de águas tanto na Guerra Fria quanto na história da energia nuclear. Mais de 30 anos depois, cientistas estimam que a área ao redor da antiga usina continuará inabitável por até 20 mil anos.

O desastre ocorreu próximo à cidade de Chernobyl, na antiga União Soviética, que investiu intensamente em energia nuclear após a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1977, os cientistas soviéticos instalaram quatro reatores nucleares RBMK (reatores canalizados de alta potência) na usina de energia, localizada logo ao sul da atual fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia.
Em 25 de abril de 1986, uma manutenção de rotina estava agendada para acontecer no quarto reator da Central Nuclear de V.I. Lenin. Os engenheiros planejavam aproveitar a ocasião para testar se o reator ainda poderia ser resfriado casose a usina ficasse sem energia. Durante o teste, entretanto, os operadores infringiram protocolos de segurança e o reator ficou sobrecarregado. Apesar das tentativas para desligar totalmente o reator, outra sobrecarga provocou uma reação em cadeia de explosões em seu interior. Por fim, o núcleo do reator ficou exposto, lançando material radiativo para a atmosfera.
Após esforços infrutíferos dos bombeiros para apagar as inúmeras chamas na usina, helicópteros despejaram areia e outros materiais em uma tentativa de abafar o fogo e conter a contaminação. Apesar da morte de duas pessoas nas explosões, da internação hospitalar de operários e bombeiros e do perigo da deposição de partículas radiativas e do incêndio, ninguém nas imediações (inclusive na cidade vizinha de Pripyat, construída na década de 1970 para servir de moradia para os operários da usina) foi evacuado nas primeiras 36 horas após o início do desastre.
A divulgação de um acidente nuclear era considerada um risco político expressivo, mas, a essa altura, era tarde demais: a fusão do núcleo do reator já tinha espalhado radiação até a Suécia, onde oficiais de outra usina nuclear começaram a questionar o que estava acontecendo na União Soviética. Depois de inicialmente negar ter havido qualquer acidente, os soviéticos finalmente fizeram um breve anúncio em 28 de abril.


Logo o mundo percebeu que estava diante de um evento histórico. Até 30% das 190 toneladas métricas de urânio de Chernobyl foram emitidas na atmosfera e a União Soviética acabou evacuando 335 mil pessoas, definindo uma a “zona de exclusão” com um raio aproximado de 30 km do reator.
Ao menos 28 pessoas morreram de imediato em decorrência do acidente e mais de 100 ficaram feridas. O Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica informou que mais de 6 mil crianças e adolescentes desenvolveram câncer de tireoide após a exposição à radiação do acidente, embora alguns especialistas tenham refutado essa alegação.
Pesquisadores internacionais previram que, no fim, aproximadamente 4 mil pessoas expostas a elevados níveis de radiação poderiam desenvolver câncer como resultado da radiação, ao passo que aproximadamente 5 mil pessoas expostas a baixos níveis de radiação poderiam ter destino semelhante. Ainda assim, as consequências totais do acidente, incluindo seus impactos sobre a saúde mental e até sobre gerações futuras, ainda são muito discutidas e estão sendo estudadas.
O que resta do reator agora está encerrado em uma enorme estrutura de contenção de aço implantada no fim de 2016. As tentativas de contenção e monitoramento persistem e espera-se que as operações de descontaminação perdurem até pelo menos 2065.

Impactos a longo prazo

O impacto do desastre na floresta e fauna silvestre adjacentes também permanece sendo um campo de intensas pesquisas. Imediatamente após o acidente, uma área aproximada de dez quilômetros quadrados ficou conhecida como a “Floresta Vermelha” porque muitas árvores ficaram marrom-avermelhadas e morreram após absorver os altos níveis de radiação.
Hoje, a zona de exclusão é assustadoramente silenciosa, embora cheia de vida. Embora muitas árvores tenham crescido de volta, os cientistas encontraram evidência de elevados níveis de cataratas e albinismo e baixas taxas de bactérias benéficas entre as espécies de animais silvestres na região nos últimos anos. Ainda assim, devido à exclusão da atividade do homem ao redor da usina de energia fechada,  aumentaram as populações de alguns animais silvestres, como linces e alces. Em 2015, os cientistas estimaram que havia sete vezes mais lobos na zona de exclusão que em reservas comparáveis vizinhas, graças à ausência do homem.

O desastre de Chernobyl teve outra repercussão: seu preço econômico e político apressou o fim da União Soviética e estimulou o movimento global contra o uso da energia nuclear. Estima-se que o desastre tenha custado cerca de US$ 235 bilhões em danos. A atual Bielorrússia, que teve 23% do território contaminado pelo acidente, perdeu cerca de um quinto de sua terra cultivável. No auge das operações de resposta ao desastre, em 1991, a Bielorrússia gastou 22% de seu orçamento total com Chernobyl.
Hoje, Chernobyl atrai turistas intrigados com sua história e seus riscos. Mas, embora Chernobyl seja o possível símbolo do fim da energia nuclear, a Rússia nunca abandonou seu legado – ou sua tecnologia. Em 2019, ainda existem 11 reatores RBMK em operação na Rússia.




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